terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Curaçá, Cultura e Mídia

Curaçá, cultura e mídia


A cidade de Curaçá, localizada no interior do estado da Bahia, é conhecida, dentre outros fatores, por suas manifestações culturais e eventos que ocorrem durante o ano, mobilizando assim um público direcionado. Durante todo o ano acontecem, na sede e no Interior, diversos eventos que são e fazem parte da história de um povo habitante de uma cidade onde tamanho não é documento. Falar de Curaçá é falar de Marujos, Reisado, Pastoril, Festa dos Vaqueiros, as famosas Rodas de São Gonçalo, dentre tantos outros atrativos folclóricos.


Longe de qualquer metrópole, a Cidade fica a 100 km de distância de Juazeiro. Para comunicação social funciona apenas uma rádio comunitária (a Curaçá FM), a qual resume o conteúdo e a diversidade de informações transmitidas. Visto que os sinais das rádios e da tevê de Juazeiro alcançam a Curaçá, a Cidade se mantém interligada de alguma forma com a Cidade Pólo da Região. Além disso, jornais da região do São Francisco circulam na Cidade e, muitas vezes, cobrem eventos. Focaremos no texto que se segue a tradição da Marujada, que nada mais é que uma dança de congos – muito conhecida em Juazeiro da Bahia, tipicamente de tradição africana; e a Festa dos Vaqueiros que há mais de 50(cinqüenta) anos atrai milhares de pessoas para a cidade.

A Marujada é um evento que atrai multidões e, principalmente, a presença da mídia. Há uma justificativa para isto. Para tentar destrinchar este emaranhado, deve-se a princípio enxergar a dimensão religiosa que contagia o imaginário curaçaense. A Cidade possui dois padroeiros que residem na mesma Paróquia. O primeiro oficializado pela Diocese de Juazeiro é o Bom Jesus da Boa Morte. O segundo é São Benedito eleito pela população em geral. E isso se comprova pela reverência, adoração e festejo da massa ao santo negro em detrimento dos festejos do Bom Jesus da Boa Morte, que não possui o mesmo destaque. A festa de São Benedito é realizada no dia 31 de dezembro coincidindo com o réveillon. Já a festa do Bom Jesus acontece no início de janeiro com uma procissão muito acanhada.

A reverência ao santo negro é simbolizada por vários rituais como a estiagem da bandeira e, principalmente, pela chegada dos marujos que acontece no mesmo dia, logo ao amanhecer. Um ritual de passagem que manifesta toda a carga política de escolha de um santo protetor como uma força extra que, psicologicamente, oferece esperança ao povo sofrido da localidade. Muita fé, tradição e religiosidade passadas de geração para geração. Dessa forma a cultura de Curaçá tem se estendido ao logo dos anos, conservando o jeito de cidade interiorana. Uma cidade relativamente pequena, porém com um potencial religioso de fazer inveja a muitas cidades grandes.

O congo, congada ou congado, como preferir, é composto basicamente homens, mulheres e crianças. Muitos dançam por se identificar com o arquétipo do sofredor e humilde; e outros por, simplesmente, cambiar promessas e graças com a divindade (que é o santo negro), e em contrapartida dançam para satisfação de suas realizações e obtenções dos seus desejos. Com movimentos repetitivos, passam a imagem de que são felizes enquanto congos. Passado de gerações dentro de um mesmo lar, o ritual tem crescido o número de adeptos e traz na sua bagagem o perfil de Curaçá, visto que é realizado com frequência o culto deles ao santo.

Destarte, esta manifestação, repleta de religiosidade, tradição e cultura consegue impressionar tanto a população, como outras cidades circunvizinhas; assim também desperta o interesse da própria mídia, a qual enxerga ou encara este fenômeno cultural como um atrativo que contempla a vinculação entre espectadores. O que tem movido a mídia são os interesses populares daquele lugar: por mais que a cidade de Curaçá não tenha sua própria rede de mídia, ela existe nesse mundo e acontece enquanto cidade.

Esta manifestação consegue agregar uma massa ou uma coletividade que gera uma força motriz capaz de mobilizar um contingente de devotos e admiradores. Trocando em miúdos, pode-se dizer que em resultado ao que se observa a realização desse ritual, são conseguidos mais participantes e novos espectadores como também, pessoas, que sem nenhum vinculo religioso, se sentem atraídos pelo fenômeno cultural da congada e da força dos ancestrais, perpetuando, até os dias atuais. Esse fenômeno é o que move a continuidade dessa cultura.

A marujada de Curaçá já foi motivo de estudos literários, trabalhos acadêmicos e também de registros audiovisuais como: documentários feitos pela Tevê (Cultura e ESPN) e pequenos vídeos divulgados na internet (youtube e outros sites). Além disso, a rádio local, Curaçá FM, divulga amplamente a festa da marujada cobrindo as manifestações culturais profanas e sagradas dos marujos. As primeiras são acompanhadas e regadas pela comilança e bebidas de Dionísio; E as segundas são movidas pelo dogma que é realizado através do ritual da missa.

Saindo do ‘rito de São Benedito’, o texto segue para a Festa dos Vaqueiros. A região de Curaçá está fincada no semi-árido nordestino e, por isso, não oferece possibilidades de fartura de vegetação verde caracterizando uma ambiência íngreme e de difícil sobrevivência. Existe ali um ar de sertão e caatinga – motivo de orgulho para os nordestinos. Surge então um personagem resistente vestido de couro de gado: o vaqueiro. Figura ímpar no cenário da caatinga, ele transita entre a cidade e seu ambiente singular (roça, sítio, fazendo, rancho).

Este movimento chamou a atenção de pessoas de olhares vanguardistas que no momento estavam no panorama político da cidade. Assim sendo, resolveram materializar uma sociedade civil organizada que mobilizou uma festa que homenageava os vaqueiros unindo novamente as polaridades profano e sagrado.

Iniciando um breve comentário a respeito da Festa dos Vaqueiros, podemos perceber que através desse evento, é recebida na Cidade uma grande quantidade de pessoas que busca assistir de perto esse acontecimento de tamanha importância para aquele lugar. Com o grande movimento de turistas e visitantes, ficou viável para a mídia investir na Festa. A cultura daquele lugar é de um povo pacato, hospitaleiro, bem humorado, bastante religioso. Tudo que é novo e faz bem, é bem aceito e a Festa é motivo de orgulho para os nativos e lhes traz alegria junto com os participantes do evento.

Pela manhã, realiza-se um desfile de vaqueiros vestidos a caráter. Logo em seguida há uma missa campal. Pela noite acontece a festa dançante que com o passar do tempo foi tomando uma proporção avassaladora por conseguir agregar pessoas, políticos, religiosos e turistas. Nos dias atuais ela vem se refinando em termos de estrutura e atrações musicais. Este festejo já configura no calendário de festejos da Cidade e já faz parte da cultura, já que foi inserida na realidade dos munícipes e turistas. Acontece sempre na primeira semana do mês de julho e atrai muitos membros para a sociedade. Esse momento constitui um marco que incentiva a presença da mídia em geral.

Esta manifestação cultural ascende o nome de Curaçá e muito contribui para o engrandecimento e divulgação do município mundo afora. A importância que foi adquirida ao longo dos tempos (em seus mais de 50 anos) fez com que a mídia reconhecesse e valorizasse a imagem do vaqueiro. Este por sua vez, é um dos responsáveis pela a origem e a formação social e cultural da cidade de Curaçá. 

Podemos ver que em Curaçá é muito constante a presença da religiosidade, pois onde há falta de conhecimento, há medo e o ser humano teme o que não conhece. Desconhecendo o mundo do lado de fora se apega a Deus. Um lugar relativamente afastado tem sua cultura muito voltada para o religioso. Em todas as manifestações, os eventos e ritos, a cidade deixa muito claro que possui uma característica de religioso ativo e praticante, saindo daquele papel de ser católico somente porque o país é católico. Há sinceridade que junto com costumes e tradições é passada para as gerações futuras.

Nenhum comentário:

Postar um comentário